Psicopedagogia

O PSICOPEDAGOGO NO ÂMBITO ESCOLAR

Adriana Lourenço/2007

1 INTRODUÇÃO


Sabe-se que o fracasso escolar de um grande número de alunos de escolas públicas deve-se a mecanismos institucionais, relações de poder assimétricas, além de um olhar muitas vezes implacável sobre a clientela, esperando pouco e, não raro, com ares de discriminação. Pois bem, estamos falando de um problema social, além de todo o aspecto político-ideológico que permeia essa problemática, mas, como se imbricaria a subjetividade de cada sujeito/professor nessa questão, pois é preciso apostar na responsabilidade individual de cada professor, inclusive considerando-o como um possível agente de mudança frente ao cenário comumente encontrado nas escolas públicas. Mas esta conscientização se dá através do trabalho do psicopedagogo e outros especialistas.

Embora seja uma profissão relativamente nova no Brasil, a psicopedagogia é reconhecida não só institucionalmente, mas também profissionalmente pela importância que tem na ação interativa junto aos professores e alunos de forma a completar o ciclo da aprendizagem. Mas pode-se sentir que embora haja uma grande necessidade do profissional e reconheçam esta importância, ainda não existe um programa de contratação efetiva, pois se detecta que as escolas em sua maioria não possuem a função de psicopedagogo e as que possuem, como as escolas municipais estão com problemas sérios pela defasagem do profissional em relação ao número de alunos e pelo sistema de atendimento fora da escola, o que quebra o elo de ligação e o acompanhamento dos professores em relação aos alunos atendidos.

Com uma proposta de realização de estágio psicopedagógico Institucional, procuramos uma escola da Rede Municipal de Ensino de Rio do Sul.

O Centro Educacional Shirley Dolores Sedrez, situa-se na rua, no bairro Santana – Rio do Sul no Estado de Santa Catarina. Atualmente a escola possui a educação Infantil e o Ensino Fundamental nas séries iniciais.

Essa Unidade escolar é de pequeno porte, onde estão distribuídas turmas















Considerando o exposto acima, fomos a busca de dados mais palpáveis, enquanto a atuação do profissional psicopedagogo no âmbito escolar, procurando o nosso objeto de estudo relacionado ao estágio institucional, uma escola da Rede Pública Municipal de Rio do Sul.

Esse trabalho tende a apresentar propostas de atuação do psicopedagogo, não com objetivo de interferir na realidade da escola estudada, mas sim propor sugestões onde visam acrescentar e multiplicar novas idéias

este estudo tem por objetivo maior, verificar o papel que os psicopedagogos estão desempenhando nas escolas, e como está sendo avaliado o trabalho dos mesmos e ainda analisar sobre a importância do papel do psicopedagogo na instituição escolar através de ações como verificar a atuação do psicopedagogo, ou seja, como está o nível de interação entre ele e a escola e de que forma o mesmo está trabalhando e conscientizar as autoridades da importância de ser ter um psicopedagogo na escola e que isso amplie o campo de trabalho, onde não só beneficiará o profissional, mas também o aluno, no processo de aprendizagem.

Atualmente, sabe-se que muitas das dificuldades de aprendizagem deve-se a uma má pedagogia, tanto institucional como familiar. A atuação do psicopedagogo deve proporcionar as informações teóricas e práticas necessárias, no sentido de instrumentalizar os professores e a família no que diz respeito aos fatores envolvidos no desenvolvimento bio-psico-social da criança, os quais influenciam na aprendizagem, causando problemas.

Diante destas constatações questiona-se:

- Qual a importância do papel do psicopedagogo em uma instituição escolar?

- A psicopedagogia institucional, propõe uma atuação preventiva dentro da escola, no sentido de instrumentalizar a criança, dando-lhe uma educação integrada que possa atender as capacidades reais de adequação às propostas pedagógicas?

O que é fundamental é que se diminua sensivelmente o índice de portadores de dificuldades causadas pelos mais diversos motivos.





2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Históricos da Psicopedagogia e Áreas Afins



Um dos fatos que merece destaque é o desmembramento das antigas faculdades de educação em Faculdade de Pedagogia e Psicologia, onde os formandos tinham acesso a um currículo mais completo que lhe possibilitava uma formação humanista muito mais abrangente.

Os psicólogos tendiam para um caminho de trabalho cada vez mais clínico e o pedagogo, se desviou para cada vez mais de uma prática voltada para os distúrbios de aprendizagem. Deve-se lembrar que a criação de várias habilitações dentro da própria faculdade de Pedagogia, também serviu como fator de fragmentação do saber que deveria ser apropriado pelo pedagogo. De outro lado, a criação de um mercado artificial para o atendimento de encaminhamento desnecessário em vista do rebaixamento do nível dos educadores, que não sabiam atuar de forma precisa em sua área de trabalho.

Por meio da psicologia e da pedagogia, buscou a criação da identidade do pensamento intelectual brasileiro, através de uma vertente teórica. Esse modo coincide com o surgimento dos primeiros cursos de psicopedagogia em nível de aperfeiçoamento e especialização em São Paulo. É importante marear as influências exteriores recebidas desde os primórdios da atuação psicopedagógica do professor Quirós do Brasil, que muito contribuiu para que se vislumbrassem novas formas de atuação frente aos problemas de aprendizagem.

Nessa fase, o conceito de dislexia começa a tomar vulto e os problemas de ordem psicomotora ficam mais evidentes. A pedagogia com conhecimentos mais amplos, faz as primeiras tentativas de integração entre o aprendizado e o trabalho motor, tentando resgatar a totalidade dos indivíduos. É importante ressaltar dois pontos que dizem respeito ao resgate da totalidade: a dificuldade em informações que possibilitassem a integração de conhecimentos, condição essencial para o desenvolvimento de uma ação voltada para os distúrbios de aprendizado, e o receio de alguns profissionais em exercer um trabalho que envolvesse aspectos emocionais.

É preciso considerar que as funções a nível de raciocínio e os processos operativos subjacentes, ficavam sem respaldo para o desenvolvimento da ação profissional e o acesso à produção de PIAGET era muito difícil e a passagem entre os cursos embasados em sua filosofia de trabalho e a nova prática era muito distante.

Havia uma grande inquietude por parte dos profissionais na tentativa de se adquirir uma visão mais globalizante, que incluísse desde uma concepção mais tola do aspecto psicomotor, até uma compreensão mais profunda do desenvolvimento do raciocínio e dos aspectos emocionais envolvidos na aprendizagem.

Foi nesse exato momento, que emergiu o espaço do Instituto Sede Sapientiae, para a criação do 1º curso de Psicopedagogia a nível institucional. Naquela época o educador encontrava se perdido em suas funções sem saber quais os caminhos possíveis a serem encontrados. Os profissionais que iniciam o curso não partiam de um modelo existente, mas de uma lacuna.

O objetivo do curso era o da integração do processo educativo dentro da nossa realidade, levando em conta, a problemática das crianças pertencentes às camadas majoritárias da população. Iniciando em sua programação, o atendimento individual às crianças da rede pública, prática peculiar do Instituto desde os seus primórdios.

É importante lembrar que na fase inicial, pesquisou o modelo argentino, que serviu nesse momento apenas com referência de estudo para a criação do modelo brasileiro.

As expectativas das alunas do curso estavam voltadas para uma atuação a nível clínico. A influência que a Psicopedagogia poderia exercer na escola, com suporte para o trabalho escolar parecia muito distante. O trabalho psicopedagógico, a nível institucional aparecia com um profissional a mais dentro da escola.

Na fase que se seguiu, a clientela que procurou os cursos começa a se diferenciar. Esse fato se explica pelo aparecimento de novos conhecimentos nas áreas da lingüística, psicolingüística e teorias do desenvolvimento, ressaltando as contribuições da Emília Ferreiro, através do referencial voltado para a alfabetização. Essas modificações aparecem da seguinte maneira: inclui se no modelo clínico o atendimento grupal e inicia se um trabalho a nível preventivo.

A Associação de Psicopedagogia de S.P. surge em 1980, a partir dos questionamentos, a respeito do perfil profissional e da definição de suas funções.

Nesse momento, os professores do curso incentivam as alunas a criar uma Associação como meio de canalizar as inquietações que começaram a aparecer. Numa 1ª fase, as iniciadoras da Associação sentem a necessidade de trocar com seus pares as técnicas de trabalho e algumas vivências que vinham realizando. A preocupação com a prática psicopedagógica aparece constantemente.

Numa 2ª etapa, emerge com muita força no grupo, a importância da interdisciplinaridade para a realização do trabalho psicopedagógico.

Num 3ª momento, aparece no grupo de São Paulo, uma visão de psicopedagogia mais voltada para a pesquisa a partir das causas e dos sintomas.

No período que se seguiu, cresce o interesse por parte da Associação em ampliar contatos e aprofundar algumas teorias que atendessem às necessidades da concretização de um trabalho psicopedagógico com vez mais consistente.

Os cursos e atividades que se seguiram dão continuidade à noção surgida durante o I Encontro, onde 11 estados responderam ao convite e houve participação de alguns países da América Latina (Chile, Uruguai e Argentina).

Outro marco importante da Associação foi a viação de um periódico com publicações de cunho cientifico, referentes a trabalhos e pesquisas no que diz respeito aos problemas de aprendiz, iniciados em 1982, esse trabalho, que continua até os dias de hoje, com 12 números já publicados.

Em 1986, aconteceu o II Encontro de Psicopedagogia, que atinge maiores proporções tendo comparação com o I. A grande preocupação com a psicopedagogia institucional que se inicia no 1º Encontro, aparece com maior ênfase nesse momento; a apresentação de alguns trabalhos fundamentados nas teorias de Emília Ferreiro que demonstram as falhas da escola no processo ensino aprendizagem.

Outro aspecto que aparece no 1º Encontro é que se concretiza no 2º é o da delimitação do papel profissional. Começa a ficar claro que o espaço de trabalho do psicopedagogo, pode ser ocupado por profissionais advindos de diferentes áreas de atuação, desde que se fundamentem nas teorias de psicologia do desenvolvimento e nas dificuldades da aprendizagem.

De acordo com SCOZ (1991, p.36), a Psicopedagogia é a área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas dificuldades e que, numa ação profissional, necessita englobar muitos campos do conhecimento integrando os. No inicio, a Psicopedagogia se restringia ao atendimento clínico, mas pouco a pouco foi ampliando e ganhando espaço também na área escolar, contribuindo para a redução dos problemas de aprendizagem.

Segundo KIGUEL (apud SCOZ, 1991, p.37), a Psicopedagogia tem como objeto central de estudo a aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e patológicos. Como as outras áreas da saúde, a Psicopedagogia também implica num trabalho preventivo e curativo.

Segundo esta autora, uma atuação profissional em nível preventivo, consiste em atuar nas escolas e em curso de formação de professores, informando sobre o processo evolutivo das áreas relacionadas à aprendizagem acadêmica, também auxiliando na organização de condições de aprendizagem de forma integrada e que estejam dentro das capacidades dos alunos. O trabalho em nível curativo, por sua vez consiste em realizar o diagnóstico e o tratamento de uma criança ou adolescente com dificuldade de aprendizagem. Para ASSIS (1990,p.7), há uma gama extensa de fatores que interferem no desempenho escolar. Entre eles, a saúde física do aluno, as condições sócios-econômicas, as características da escola como instituição, a conduta dos professores em sala de aula, as características psicológicas cognitivas e afetivas de alunos e professores e o contexto sócio cultural mais amplo, com seus determinantes ideológicos. Cada um destes fatores contribui de forma diferente para configuração do desempenho escolar da criança.

LEVISKY (1992, p.23), também comenta que muito dos distúrbios de aprendizagem e escolaridade, são expressões de distúrbios emocionais que se manifestam. Com mais freqüência na infância e sobre aquelas funções que se encontra em desenvolvimento, recebendo, portanto, maior investimento afetivo.

Para ele, a Psicologia dentro de uma perspectiva psicanalítica tem possibilitado, através de práticas clínicas, formularem teorias que permitem uma melhor compreensão das funções simbólicas, da organização do pensamento e das características da personalidade. Estas atividades psíquicas mantêm estrita relação com as funções ligadas à aprendizagem da criança.

Salienta LEVISKY (1992, p.25)



“que o processo educacional não inicia na escola, mas sim, a partir das primeiras relações afetivas com a mãe, com o pai e com a família. Entende que as condições psíquicas para o aprendizado estão em íntima relação com o desenvolvimento dos primeiros vínculos afetivos e, no decorrer deste processo, com o próprio desenvolvimento da personalidade”.



Para BOSSA (1994, p.19), “o trabalho psicopedagógico implica em compreender a situação de aprendizagem do sujeito, dentro do seu próprio contexto. Tal compreensão requer uma modalidade particular de atuação para a situação que se está estudando, o que significa que não há procedimentos pré determinados”. A metodologia de trabalho vai se moldando de acordo com cada caso, na medida em que a problemática aparece, pois cada situação é única e requer dos profissionais atitudes específicas. Ao se desenvolver a metodologia específica de trabalho, deve se levar em consideração especialmente, as circunstâncias, o contexto de vida do sujeito, a família, a escola, a comunidade, dentro outros fatores.

A preocupação com os problemas de aprendizagem teve origem na Europa ainda no século XIX, sendo os filósofos, os médicos e os educadores os primeiros estudiosos dos processos da aprendizagem. A Psicopedagogia se estabeleceu como área de conhecimento devido à ineficácia da Psicologia e da Pedagogia diante dos problemas de aprendizagem. Ela surgiu na tentativa de integrar conhecimentos advindos de diversas áreas, objetivando compreender o homem como um todo bío psico social e dinâmico.

O termo dado a área possui característica especial, uma vez que, Psicopedagogia não se resume na aplicação da Psicologia dentro da Pedagogia, e sim, uma forma científica de compreender melhor as dificuldades apresentadas durante o processo de aprendizagem. MACEDO (apud BOSSA, 1994, p.5) é mais claro explicando que “o termo já foi inventado e assinala simples e direta uma das mais profundas e importantes razões da produção de um conhecimento científico: o de ser meio, o de ser instrumento, para outro, tanto em uma perspectiva teórica ou aplicada”.

Nota-se neste texto que o autor procura colocar a psicopedagogia como uma função intermediária entre o pedagogo e o psicológico, uma vez que existem casos de dificuldades na aprendizagem que em sempre compete ao pedagogo e por outro lado, não é específico para o psicólogo.

A psicopedagogia possui “caráter interdisciplinar”, o que significa que a sua especialidade como área de estudo, busca conhecimentos fora e cria seu próprio objeto que é a condição essencial da interdisciplinaridade, mesmo que fosse necessário recorrer as duas áreas, (Psicologia e Pedagogia), para buscar soluções referentes as dificuldades que envolvem a aprendizagem, não se faria apenas o uso de uma a outra, mas na criação de uma nova área que visa o seu objeto de estudo, na busca de sua constituição, ela delimita seu campo de ação, recorrendo a Psicologia, Psicanálise, Lingüística, Fonoaudiologia, Medicina e a Pedagogia.

Para WEISS (apud BOSSA,1994,p.6), falar sobre psicopedagogia é, necessariamente falar sobre a articulação entre educação e psicologia, articulação essa que desafia estudiosos e práticos dessas duas áreas. Embora quase sempre presente no relato de inúmeros trabalhos científicos que tratam principalmente dos problemas ligados a aprendizagem, o termo Psicopedagogia não consegue adquirir clareza na sua dimensão conceitual. De acordo com essa autora, a Psicopedagogia nada mais é do que o acordo com a união de conhecimentos da Psicologia e da Pedagogia, ou seja, um adjetivo dessas duas áreas. Em seguida, a mesma autora dá a psicopedagogia um significado de substantivo, quando definiu a psicopedagogia como uma aplicação de conceitos e a um estado confuso, em virtude da utilização de vários sentidos dado a uma só palavra, criando duplo sentido também na prática. NEVES (apud MEDON,1987), alega que nos fins dos anos 70 e início da década de 80, em nosso país, os membros do campo pedagógico chamavam a psicopedagogia de atitude psicopedagógica, sendo em sentido real, psicologismo radical, o que os levava a denunciar os professores com esta formação, de psicopedagogia.

KIGUEL (apud BOSSA, 1994, p.20), afirma que a psicopedagogia surgiu da fronteira entre a Pedagogia e Psicologia, pela necessidade para atender crianças com distúrbios de aprendizagem, cujas crianças eram consideradas não aptas dentro do sistema convencional de educação, graças às pesquisas psicopedagógicas e com o apoio de áreas como: Psicologia, Sociologia, Antropologia, Lingüística e Epistemologia, houve uma grande reformulação nesta área, partindo de uma análise clínica individual onde acontece uma compreensão de integração da dificuldade da aprendizagem, de forma mais preventiva.

O objeto de estudo da Psicopedagogia é o “processo de aprendizagem humana, seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do meio (família, escola e sociedade) no seu desenvolvimento”(KIGUEL, apud BOSSA,1994,p.8). Já para NEVES (1991), a Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto.

Segundo SCOZ (apud BOSSA,1994,p.8), “a psicopedagogia estuda, o processo de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os”.

Para GOLBERT (apud BOSSA,1994,p.89), “o objetivo de estudo da psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque preventivo considera o objeto de estudo da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento, enquanto educável. Focaliza as possibilidades de aprender, num sentido amplo. Não se deve restringir a uma só agência como a escola, mas ir também a família, a comunidade. Poderá esclarecer, de forma mais ou menos sistemática, a professores, pais e administradores sobre as características das diferentes etapas do desenvolvimento, sobre o progresso nos processos de aprendizagem, sobre as condições psicodinâmicas da aprendizagem. O enfoque terapêutico considera o objeto de estudo da psicopedagogia a identificação de análise, elaboração de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem”.

RUBINSTEIN (apud BOSSA,1994,p.9) também considera que “num primeiro momento a Psicopedagogia esta voltada para a busca e o desenvolvimento de metodologia que melhor atendessem aos portadores de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e desta forma promover o desaparecimento do sintoma”.

Do ponto de vista de WEISS(apud BOSSA,1994,p.11), “a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores”.

Todas estas condições relacionadas ao objeto da Psicologia sugerem que o seu estudo recai sobre a “aprendizagem humana”, mas não nos leve a um único caminho. A aprendizagem apresenta tantas variações, quanto a dimensão humana possui, uma vez que, o conceito de aprendizagem se resulta na imagem de homem, sendo este a função da psicopedagogia. A respeito dos profissionais brasileiros capacitados, verifica-se que a aprendizagem é um fator preocupante sendo que os problemas desse processo é o motivo que resultou na existência da psicopedagogia.

O problema relacionado as dificuldades de aprendizagem, uma área pouco explorada que ia além da psicologia e da pedagogia, cresceu muito, a ponto, de tornar-se uma prática, uma vez que se preocupa com o problema da aprendizagem, portanto, concluímos que a psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana, ou seja, como se produzem as alterações nela contida, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las. É o estudo de um sujeito a ser estudado por outro sujeito que depende do trabalho clínico e preventivo.

O trabalho clínico é relação de um indivíduo, sua história pessoal e seu modo de aprender, onde ele busca compreender a mensagem do outro, dentro deste processo, o investigador e o indivíduo de estudo da psicopedagogia, deduz-se então, que o profissional deve compreender que o sujeito aprende, como e por que aprende e transformar a relação psicopedagogo e sujeito de forma que auxilie a aprendizagem.

No trabalho preventivo, a instituição é que oferece o espaço físico e psíquico da aprendizagem, tornando-se a área de estudo da psicopedagogia, onde são avaliados os processos didáticos metodológicos e a dinâmica institucional.

Dentro da área científica e histórica, o objeto teve várias formas, entre elas, a reeducação e o processo de aprendizagem passavam por uma avaliação para verificar as suas falhas, que eram vencidas através do trabalho, e que o objeto de estudo não podia aprender essa idéia estabelecida semelhanças entre grandes grupos de sujeitos, as regularidades, o esperado para determinada idade, numa tentativa de diminuir diferenças e acrescentar uniformidade.

Mais à frente, a psicopedagogia enxerga a “não aprendizagem” de outra forma: o não aprender com bastante significados, não se opõe ao aprender, sendo que esta fase está fundamentada na Psicanálise e na Psicologia Genética, é uma fase que busca as particularidades e características do indivíduo ou do grupo, de acordo com sua história e o seu processo evolutivo é visto como “aprendendo” só que esta idéia do sujeito variou em função da visão de homem, que se adota conforme o momento histórico e a concepção de aprendizagem.

Hoje, a psicopedagogia procura trabalhar dentro de um processo biológico, usando o afetivo e o intelectual como forma de interferência de relação do sujeito e o seu meio, uma vez que essas disposições influenciam e são influenciadas na sua condição sociocultural no meio em que vive. Além de o trabalho psicopedagógico ser preventivo, atua em diferentes níveis de prevenção como: o psicopedagogo trabalha as questões didáticas metodológicos, formação e orientação de professores e o aconselhamento aos pais, objetivo de dificuldades de aprendizagem já existentes, através de um plano para diagnosticar a realidade da instituição, criando planos de intervenção, onde se repitam os problemas a eliminação de problemas já instalados, através de um trabalho, clínico que vê o trabalho preventivo como forma de evitar o aparecimento de outros transtornos.

Um exemplo do trabalho preventivo é a alfabetização, que através de novas teorias, o psicopedagogo junto com outros profissionais da escola, elabora métodos de ensino adequados a esse processo, neste momento, o trabalho é feito com os professores, ajudando-os a incorporar os novos conhecimentos e os procedimentos metodológicos decorrentes deles.

Quando um grupo, classe ou escola, encontra dificuldades no processo de leitura e escrita, dentro da alfabetização, cabe ao psicopedagogo montar um diagnóstico do grupo e interferir nos procedimentos didáticos metodológicos utilizados. O objetivo, além de detectar as causas dos transtornos, é também, achar meios para que eles sejam eliminados. Um terceiro nível acontece quando o aluno mostra problemas de leitura e escrita ou vários alunos, e cabe ao psicopedagogo atuar diretamente junto a ele ou eles, tratando desses problemas e evitando o surgimento de outros.

Dentro do exercício clínico, o psicopedagogo reconhece a sua própria importância na relação, uma vez que se trata de um sujeito estudando outros sujeitos. Essa inter-relação em que um procura conhecer no outro, o que o impede de aprender, cria uma situação complexa, porque, ao psicopedagogo cabe saber como é o sujeito, como ele se modifica em suas variáveis etapas de vida, que recursos de acompanhamento ele tem e qual é a forma que ele aprende e produz conhecimento.

O saber faz com que o psicopedagogo procure teorias que lhe faça ver de que forma acontece a aprendizagem e as leis que direcionam o processo, as influências afetivas, as representações que o acompanham, o que pode comprometê-lo e o que pode favorecê-lo. O psicopedagogo precisa saber também, o que é ensinar, o que é aprender, como o sistema interfere no aparecimento das dificuldades de aprendizagem e no processo escolar, é desta forma que o psicopedagogo aprende como os outros sujeitos aprendem (WEISS, apud BOSSA,1994,p.25).

A orientação sobre o saber se orienta em três pilares: prática clínica, em consultório individual-grupal-familiar, em instituições educativas e sanitárias, construção teórica, contornada pela prática de forma que, a partir desta, a teoria psicopedagoga possa ser tecida, tratamento psicopedagógico-didático, é fundamental na formação do psicopedagogo, que se constitui em um espaço para a construção do olhar e da escuta clínica, partindo da análise de seu próprio aprender.

Todo sujeito possui seus meios, condições e limites para sua modalidade de aprendizagem, que significa uma forma pessoal de se aproximar do conhecimento e constituir o saber. Esta modalidade vem desde o nascimento, é como um molde que se cria que é utilizado na aprendizagem, ela é fruto do inconsciente que se constitui na inter-relação com o outro, é a relação causa-efeito, espaço-temporal e objetividade, é assim que se classifica e se organiza as operações lógicas.

O sujeito envolve, em um único personagem, sujeito epistêmico e o do desejo, o que possibilita que o aprender se encontra no nível inconsciente, do desejo de conhecer.

O trabalho clínico gera procedimentos diagnósticos e terapêuticos que aceitem esta concepção, exemplo: no processo de diagnóstico, é importante saber como e o que o sujeito pode aprender e perceber qual é o desejo de conhecer e o de ignorar, para tanto, é necessário que se faça uma leitura clínica, através da escuta psicopedagógica, onde se observa os processos que dão sentido ao observando e dão condições de determinar a intervenção.

Perceber esse jogo, ouvir essa mensagem, ou seja, assumir essa atitude clínica é necessário que se tenha um conjunto de conhecimentos estruturados, como forma de se construir uma base teórica interpretativa, para isso, é preciso incorporar conhecimentos sobre o corpo, o organismo, a inteligência e o desejo, que são os níveis básicos da aprendizagem.

As teorias que dão base ao trabalho do psicopedagogo é de conhecer os fundamentos da Psicopedagogia que implica na revisão de velhos conceitos da ação e da atuação da Pedagogia e da Psicologia, dentro da área do aprender educativo.

A Psicopedagogia, devido a sua relação com a pedagogia, traz contradições e indefinições dentro de uma ciência que se limita na própria vida humana, envolvendo, ao mesmo tempo, o juízo, o social e o individual por processos transformadores e reprodutores, ela herda também da Psicologia o psíquico, que é a consciência. Essas duas áreas não são suficientes para entender o processo da aprendizagem e suas variáveis e nortear a sua prática recorrendo a outras áreas, como a Filosofia, a Neurologia, a Sociologia, a Lingüística e a Psicanálise, como forma de alcançar a compreensão do processo.

Para OLIVEIRA,

“no lugar do processo de aprendizagem coincidem um momento histórico, um organismo, uma etapa genética da inteligência e um sujeito associado a tantas outras estruturas teóricas, de cuja engrenagem se ocupa e preocupa a Epistomologia, referimo-nos principalmente ao materialismo histórico, à teoria piagetiana da inteligência e à teoria psicanalítica de Freud, enquanto instauram a ideologia, a operatividade e o inconsciente”(apud BOSSA,1994,p.16).



Os autores brasileiros NEVES (1989), KIGUEL(1994), SCOZ(1994), GOLBERT(1994), RUBINSTEIN(1987), WEISS(1992) e outros, assim como os argentinos FERNANDEZ(1994), PAIN(1985), VISCA(1991) e MÜLLER(1994), são unânimes ao afirmarem que o conhecimento de diversas áreas, juntos apóiam a construção da teoria da psicopedagogia.

VISCA considera que a,



“psicopedagogia foi se perfilando como um conhecimento independente e complementar, por assimilação recíproca das contribuições das escolas psicanalítica, piagetiana, e da psicologia Social de Enrique Pichéon-Riviéri, desta forma, é possível compreender a participação dos aspectos afetivos, cognitivos e do meio que confluem no aprender do ser humano”(apud BOSSA,1994,p.17).



Para OLIVEIRA,



“os que se defrontam com os problemas de aprendizagem devem fundamentar sua prática na articulação da Psicanálise, da teoria piagetiana e do materialismo histórico. Por sua vez Marina Müller, aponta como suportes teóricos da Psicopedagogia clínica campo do qual ela se ocupa: a Psicanálise e a Psicologia Genética bem como a Psicologia Social e a Lingüística”(apud BOSSA,1994,p.17).



A prática psicopedagógica coloca questões pouco discutidas, difíceis e que geram conflitos, isso porque seu “paciente”, o sujeito que se defronta com a dificuldade de aprendizagem, apresenta um quadro comprometido, ultrapassando o campo de ação de profissionais diferentes, onde envolve dificuldades cognitivas, instrumentais e afetivas.

Em razão da sua área complexa do seu objetivo de estudo, a psicopedagogia lança mão sobre variadas teorias, como: a Psicanálise é a encarregada do inconsciente, das representações profundas que atuam através do psíquico e se expressa por sintomas e símbolos, a Psicologia Social é encarregada da constituição dos sujeitos, relacionado as relações familiares, grupais, institucionais, socioculturais e econômicas, a Epistomologia e a Psicologia Genética, são encarregadas pela análise e descrição do processo de construção do conhecimento sujeito/interação/objetos, a Lingüística, traz a comunicação através da linguagem, como um dos meios humano/cultural, é a língua usada como código a disposição da sociedade e a fala como fenômeno subjetivo, evolutivo e histórico.

Nenhuma dessas áreas apareceu para dar respostas para o problema da aprendizagem humana, entretanto elas fornecem meios de reflexão científica e atuam no nosso campo psicopedagógico, exemplo: uma criança é encaminhada por não conseguir aprender a ler e a escrever, uma situação bastante comum, seja no consultório ou na escola. Recorre-se então a um corpo teórico para receber ajuda que atinja o centro do problema, analisa-se questões surgidas no trabalho de apoio ao sujeito, para que se estabeleça o seu processo de aprendizagem, uma vez que, a metodologia de ensino usada na alfabetização, pode não estar sendo a correta e, esta, é uma questão a ser revista dentro da Pedagogia, além de que, o processo leitura-escrita, poderão ser resolvidos através da Psicologia Genética, como por exemplo: a inviabilização do processo dentro da relação professor/aluno, ou o aluno assume uma relação com o professor de transferência, inibindo assim sua leitura-escrita pode estar relacionada com o crescimento do aluno. Esta é uma análise que envolve ajuda de outras disciplinas.

Por outro lado, as pessoas podem estar diante de um caso em que o aluno tenha sofrido uma anóxia de parto, que lhe causou uma lesão cerebral, que atingiu a área cortical da linguagem, ao ter-se a certeza dessas informações, o direcionamento para o tratamento diferencia-se encaminhamento o aluno a um Neurologista.

Outra dificuldade advém da diferenças culturais e de linguagem, a diferença entre professor e aluno, ou vice-versa, cria problema na comunicação, ocorrendo o comprometimento da leitura e da escrita, uma vez que estas são os meios de comunicação neste momento, a Lingüística deve entrar para explicar ao psicopedagogo a causa do problema, ajudando-o na resolução do problema.

A psicologia social é a natureza do grupo a que pertence o aluno e as interferências que esse grupo, pela cooperação e esse operar com outros sobre um problema ou uma anomalia. Os profissionais da área da Psicopedagogia sustentam a sua prática em suposição teórica muitas vezes distinta, o que resulta em conseqüência da identificação dele com alguma corrente teórica. Ele pode escolher a Psicanálise para compreender o sentido inconsciente das dificuldades de aprendizagem, sendo que a escolha estaria amparada em condição pessoal de psicopedagogo, que vem através de sua experiência de análise e de sua formação.

Essa opção determina um procedimento prático, onde o trabalho do psicopedagogo é propor a criança a realização de tarefas, acompanhando-a em sua execução, a atenção do profissional deve se voltar para a reação da criança diante a tarefa, levando em consideração as resistências, os bloqueios, lapsos, hesitações, repetições, sentimentos e angústias ao enfrentar determinadas situações, além de outros procedimentos, cabe ao psicopedagogo fazer intervenções de modo que a criança entre em contato com seu inconsciente das dificuldades.

FREUD (apud BOSSA, 1994, p.20), já previa a possibilidade de recorrer a Psicanálise para que se possam compreender os diversos sintomas da dificuldade de aprendizagem.

Observando as doenças que apareciam no corpo e não encontra explicações na Medicina, FREUD chega até a noção do inconsciente, entendendo que o que ocorre é uma inversão simbólica do inconsciente para o corpo. Segundo o criador da Psicanálise “o inconsciente não se manifesta de forma direta, nem se pode circunscrevê-lo também ou delimitá-lo, mas aparece através das fraturas: o chiste, o lapso, o ato falho, o sonho e o sintoma. O futuro provavelmente atribuirá muito maior importância à psicanálise como a ciência do inconsciente do que como um procedimento terapêutico”(FREUD,1993,p.9). Observa-se portanto, que como ciência do inconsciente, a Psicanálise contribui para a compreensão do sistema como problema da aprendizagem, vendo-a como uma manifestação humana cheia de significado.

A psicopedagogia pode ser caracterizada como uma área do psicológico e do educacional; o psicopedagogo ensina como aprender e, para isso ele precisa aprender a aprendizagem.

A aprendizagem é a responsável pela integração da pessoa no mundo da cultura, através dela, o indivíduo passa a fazer parte do mundo cultural de forma ativa, ao adquirir conhecimentos e técnicas. O trabalho de ensinar a aprender, cabe ao psicopedagogo recorrer de critérios diagnosticados, a fim de entender a folha da aprendizagem, partindo daí, o caráter clínico da Psicopedagogia.

A investigação do diagnóstico deve abordar o pessoal, o familiar passado e atual, o sociocultural, o educacional e a aprendizagem, ao entender o significado da dificuldade de aprendizagem, recai sobre o problema interpretado: a linguagem à respeito da linguagem da enfermidade leva a um diagnóstico.

A leitura do diagnóstico varia em cada profissional, em virtude de sua formação, dos marcos referenciais de sua prática e sobre a teoria que ele se identifica. Atualmente a psicopedagogia refere-se a um saber e a um saber fazer, em especial à familiares e escolares, às inibições, atrasos e desvios do aluno ou do grupo a ser diagnosticado.

O campo de atuação do psicopedagogo não é só o espaço físico que lhe dá esse trabalho, mas, em especial, no lugar deste campo de atividade e como aborda seu objetivo de custo, que vão da clínica, preventiva e teórica, uma unida à outra. O trabalho clínico é preventivo, uma vez que trata de alguns transtornos da aprendizagem e evita o aparecimento de outros; já o tratamento preventivo é sempre clínico, e, essas duas atuações, resultam em um trabalho teórico. O trabalho psicopedagógico da área preventiva é de orientação do processo ensino-aprendizagem, esse é um trabalho que pode acontecer na forma individual ou grupal, na área da saúde mental e na educação.

Cabe ao psicopedagogo, dentro de sua função preventiva, detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer processos de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos e realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo. O trabalho do psicopedagogo pode ter um caráter assistencial, desde que ele participe de equipes responsáveis pela elaboração, direção e evolução de planos, programas e projetos no setor da educação e da saúde, fazendo diferentes integrações nos campos de conhecimento.

Na área teórica a Psicopedagogia cria uma teoria com processos de investigação e diagnóstico, específico a ela, via estudo de questões da educação e da saúde dentro do processo de aprendizagem, já na área da saúde, o trabalho é realizado em consultórios provados ou em hospitais, para que possa reconhecer e atender as mudanças da aprendizagem sistemática, ou assistemática de natureza patológica.

Segundo relatório do Conselho de profissionais de Psicopedagogia (1992), estas são ocupações do psicopedagogo no Brasil: Orientação dos estudos, que é a organização da vida escolar da criança quando esta não sabe faze-lo, um ex.: como ler um texto, como escrever, como estudar, etc., apropriação dos conteúdos escolares, é oferecer ao aluno, o domínio das disciplinas escolares onde ele não está tendo bom aproveitamento; desenvolvimento do raciocínio, é o trabalho efetuado com os processos de pensamento necessários para aprender, este procedimento ajuda no desenvolvimento cognitivo maior do que a escola consegue; atendimento de criança, é o atendimento a deficientes mentais, autistas ou outros problemas orgânicos mais graves.

O atendimento psicopedagógico pode recorrer, em alguns casos a propostas corporais, artistas, etc., embora esteja sempre relacionado ao trabalho escolar, porque ele é um professor particular; uma vez que realiza a sua tarefa de pedagogo sem que se desvie de seus propósitos terapêuticos, possui as seguintes especialidades: distúrbio na aprendizagem, que é visto como uma manifestação de uma perturbação, envolvendo a totalidade da personalidade; o desenvolvimento infantil só é considerado quando parte de uma perspectiva dinâmica, e é dentro dessa evolução dinâmica que se estuda o distúrbio da aprendizagem; a neutralidade do papel do psicopedagogo é negada, uma vez que ele conhece a importância da relação de transferência do profissional/sujeito e o objetivo principal dele é integrar o aluno a vida escolar normal.

O psicopedagogo respeita a escola exatamente como ela é, com suas imperfeições, uma vez que é através da escola que o aluno poderá se situar com seus semelhantes, optando por uma profissão e participar da construção coletiva da sociedade, a qual pertence.





2.2 O Profissional – O Psicopedagogo





O psicopedagogo é um profissional que tem total dedicação à assessoria de instituições escolares, ele tem o intuito de certificar aos profissionais desta instituição as condições precisas para se poder atingir a uma melhor compreensão da complexidade do processo de ensinar e aprender. O trabalho que o psicopedagogo institucional desempenha pode permitir uma composição de certas análises correspondentes a cada instituição, as quais garantem uma melhor qualidade ao trabalho dos educadores.

Hoje em dia, a psicopedagogia vem se constituindo no círculo de trabalho, o profissional que opta por essa área é denominado de Psicopedagogo, ele tem a função de estimular a desenvoltura de relações interpessoais, a estabilidade de vínculos, o emprego de processos de ensino compatibilizado com as concepções mais atualizadas possíveis a respeito desse método. Planeja um envolvimento com a equipe escolar, proporcionando assim uma ampliação no modo de olhar o aluno em torno das ocorrências de obra de conhecimento.

Este profissional está sempre preparado em atender crianças ou adolescentes que apresentam problemas de aprendizagem, ele tem a atuação de prevenir, de diagnosticar e de clinicar. Eles atuam em escolas e empresas, a chamada psicopedagogia institucional, em clínicas (psicopedagogia clínica).

O psicopedagogo, por meio do diagnóstico clínico poderá identificar os motivos que causam problemas de aprendizagem. Ele usará meios como provas operatórias e projetivas e materiais pedagógicos em geral.

Será realizada no consultório clínico uma entrevista inicial com os pais ou responsáveis da criança para que se possa falar sobre os horários, as quantidades certas de sessões - geralmente pode ser feito o diagnóstico entre 8 a 10 sessões, o ideal é que haja duas sessões por semana e a importância da freqüência e da presença de quem precisa fazer o tratamento.

O psicopedagogo pode confirmar ou não suas suspeitas após fazer o diagnóstico em seu cliente, este profissional poderá afirmar se há problemas de aprendizagem, caso houver, ele indicará um tratamento psicopedagógico, ou até problemas relacionados com a escola, se for o caso, ele recomendará provavelmente que se matricule em outra, no entanto poderá identificar outros problemas, indicando um psicólogo, um fonoaudiólogo, um neurologista ou outro especialista dependendo do caso.

O tratamento psicopedagógico pode ser realizado com o próprio psicopedagogo que fez o diagnóstico, então serão realizadas várias atividades, com diversos recursos como brincadeiras, brinquedos, jogos, conto de estórias com o único objetivo de identificar o melhor caminho de se aprender e o que pode estar causando algum bloqueio.

Por meio de jogos a criança alcança a maturidade, aprende a ter limites, aprende a vencer e a perder, aumenta seu raciocínio, desenvolve a concentração, consegue maior atenção. Para Piaget, (1975, p. 117), “(...) os jogos consistem numa simples assimilação funcional, num exercício das ações individuais já aprendidas. Gera ainda, sentimento de prazer, tanto pela ação lúdica em si, quanto pelo domínio destas ações”.

Algumas vezes o psicopedagogo pedirá as atividades escolares, com o intuito de observar os cadernos, observar a organização e os erros cometidos, auxiliando a criança a compreender seus erros. Ajudará a criança ou o adolescente a descobrir o melhor meio de estudar com a finalidade de acontecer à aprendizagem. O profissional poderá comparecer até a escola de seu cliente para ter uma conversa com o docente, pois este tem uma relação cotidiana com o aluno, e pode informar aspectos que podem auxiliar no tratamento.

O psicopedagogo necessita de muito estudo, diariamente voltado para pesquisas e em questionamento com outros profissionais da mesma área para trocar idéias e pedir opiniões de determinados assuntos.

Um dos primeiros psicopedagogos que teve grande preocupação com a epistemologia da psicopedagogia foi Visca, (1987), ele sugeriu estudos que fossem fundamentados no que se denominou de epistemologia convergente, conseqüência da assimilação mútua de conhecimentos baseados no construtivismo, estruturalismo construtivista e no interacionalismo. Esse autor é digno de plena consideração neste trabalho realizado, compreendendo que a Psicologia surgiu na Argentina, e que Jorge Visca é considerado no meio literário dos profissionais relacionados a essa ciência, sendo o pai da Psicopedagogia.

Para que haja uma melhor compreensão do que se trata a questão da ética do psicopedagogo, será feita uma breve definição da palavra ética.

A Ética é um ramo da filosofia que estuda a natureza do que se pode considerar moralmente correto, portanto é uma doutrina filosófica que tem por objeto a moral no tempo e no espaço, sendo o estudo dos juízos de conceito referente à conduta humana. A Ética também pode ser interpretada como um termo genérico que designa aquilo que é freqüentemente descrito como a ciência da moralidade, ou seja, capaz de qualificar o ponto de vista do bem e do mal, tanto sendo no modo absoluto ou relativamente a uma determinada sociedade. Todos os psicopedagogos devem adotar alguns princípios éticos que se encontram condensados dentro do Código de Ética, totalmente aprovado pela Associação Brasileira de psicopedagogia, no ano de 1996.

O Código de Ética regulamenta as seguintes circunstâncias:



• Os princípios da Psicopedagogia;

• As responsabilidades dos psicopedagogos;

• As relações com outras profissões;

• O sigilo;

• As publicações científicas;

• A publicidade profissional;

• Os honorários;

• As relações com a educação e saúde;

• A observância e cumprimento do código de ética; e

• As disposições gerais.





2.3 Intervenção Psicopedagógica na Escola



O psicopedagogo depois de analisar sobre o funcionamento da escola onde vai atuar, ele precisa fazer uma reflexão sobre determinadas características básicas e tarefas psicopedagógicas que podem ser efetuadas dentro do contexto escolar. Sendo que estas sempre devem ser realizadas com o auxílio de aspectos teórico-práticos e apropriadas às condições da escola onde o trabalho será desenvolvido.

Para que haja uma concretização deste trabalho será preciso considerar alguns dos itens abaixo:



1. A influência da Psicopedagogia dentro do meio escolar deve ser observada como um recurso do próprio sistema educacional, deste modo, de todos os freqüentadores como alunos e professores e não apenas de alguns que apresentam determinadas características.

2. É uma interferência que demanda de uma definição lógica com aquilo que a própria tarefa representa como recursos para a escola e também necessita de análises e reflexões constantes, como meio para que se atinja objetivos.

3. É uma intervenção que, apesar de considerar algo que não funciona de forma adequada, averigua os pontos positivos da circunstância em que se encontram os professores e os alunos, para que a partir deles, possa fazer uma modificação do que se aparece de forma inadequada.

4. Trata-se de uma intervenção mais completa, não basicamente centrada no indivíduo, este é levado em consideração, mas ao mesmo tempo em que são considerados os demais elementos do sistema com os quais interage.

5. É uma intervenção que não se acaba com a demanda concreta, mas que fica conectada ao contexto específico, como salas de aulas, instituições, etc e ao contexto mais amplo, como família-comunidade e que se sustenta na rede de serviços e recursos que a comunidade dispõe.

6. A maior parte das tarefas psicopedagógicas deve ser realizada em equipe envolvendo professores, diretores, orientadores pedagógicos e outros. Este tipo de trabalho não é fácil, mas decisões precisam ser tomadas em grupo para que todos assumam responsabilidades de forma geral.



O psicopedagogo pode agir dentro do ambiente escolar determinando reuniões sistemáticas contando com a presença de todos os profissionais existentes dentro da escola; tentando elaborar e organizar cursos de variados assuntos e oficinas com atividades práticas para professores, pais e alunos. De modo que esse profissional alcance seu intuito, é preciso que haja a realização dessas tarefas na intervenção psicopedagógica, devendo sempre adequar suas intervenções conforme as precisões do contexto educacional, sem deixar de lado o seu saber e sua criatividade.



CONSIDERAÇÕES FINAIS



Espera-se com este estudo passar uma idéia mais abrangente e fundamentada de como está o desenvolvimento do papel do psicopedagogo nas escolas. Busca-se também salientar a importância do trabalho desenvolvido para melhor efetivação da aprendizagem aos alunos que apresentam dificuldades, bem como um suporte técnico a instituição escolar de forma que a inserção do atendimento psicopedagógico no contexto escolar possa ser uma contribuição positiva possibilitando uma redefinição do trinômio jovem – escola – família e suas múltiplas relações e uma postura mais afirmada para detectar, prevenir ou buscar o saneamento de problemáticas da aprendizagem.

Em relação as escolas concluí-se que muitas embora não tenha em seu quadro funcional o Psicopedagogo conhecem e valorizam o seu trabalho, utilizando-se de profissionais liberais da área, seja para palestras e esclarecimentos aos pais e professores, seja para o encaminhamento do aluno.

Em outras escolas, principalmente as municipais, o número de psicopedagogas não é suficiente para atender à demanda e a estrutura funcional das mesmas não é o ideal, pois fica longa a espera dos alunos encaminhados para serem atendidos e acaba gerando um distanciamento entre o trabalho do Psicopedagogo e o do professor.

Acredita-se que além de um mínimo ideal de contratações, o trabalho desenvolvido na escola poderia atender melhor às reivindicações e necessidades das mesmas além de proporcionar subsídios preventivos.

Pode-se concluir que existe uma grande necessidade de ampliação dos profissionais que atuam na rede escolar para atender a grande demanda. Ressaltar e valorizar o trabalho de Psicopedagogo que apesar de ser uma profissão recente, percebe-se que a interdisciplinarização das áreas faz-se necessário para o desenvolvimento emocional das crianças na fase escolar.

Percebe-se que a idéia que os professores possuem do trabalho do psicopedagogo ainda se restringe à Psicopedagogia Clínica, o que inviabiliza a atendimento individual a todos os alunos identificados pelo professor como “problema”.

O trabalho institucional ao trabalhar diretamente com a escola pode favorecer um acompanhamento a um maior número de aprendizes.

Proposta



Diante deste quadro, o que se sugere é que haja algumas reestruturações na Secretaria da Educação, tais como:

 Contratação suficiente de profissionais da área;

 Exigência mínima de experiência em sala de aula ou atividades correlatas para que o profissional possa atuar como psicopedagogo;

 Trabalho na escola com a Psicopedagogia Institucional, para diagnóstico e intervenção com carater preventivo;











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